24 de setembro de 2008

América Latina

Nas veias abertas da América latina
Vão -se os dias, longos ou curtos
No correr singelo de uma lágrima perdida
No esconder-se de um sussurro.

Em seus quilômetros de terra
De suor e histórias múltiplas
Uma dominação que em cada canto se manifesta
E tão bem a captura.

Nos seus rios, cachoeiras e florestas
Gente simples: negra, índia, branca
Que apesar dos pesares, faz da existência uma festa
Pula, brinca, sorri, canta.

Que na contemplação cotidiana
Os males é o que se espanta
Para que a miséria material das famílias
Não seja a decadência final de suas vidas.

Mas nem tudo é festa e samba
E na opulência ilimitada de uns poucos
A falência crônica de outros tantos e tantas
Fadados as desilusões, a serventia e ao sufoco.

Na embriagues das tardes quentes
Os corpos suados refletem a luz do sol
Como se fossem um torto espelho de braços e dentes
Um único e extenuante móvel só.

A memória dos povos, de suas lutas e vitórias
Vão sendo apagadas diariamente com velocidade
Expulsas do universo de um certo tipo de historia
Que só conta o que justifica a dor, a miséria e as desigualdades.

As paisagens da América latina
Destoam em tonalidades, em formas, em cheiros, em traços
A musica que toca nem sempre é de alegria
A dor é profunda é percorre este povo em seu pobre percalço.

Ainda que num horizonte próximo não se vejam saídas
E que a pobreza abrace ainda mais fortemente este povo
As correntezas do rio da historia continuam a correr nesta América Latina
Alimentando os sonhos e a esperança de um mundo novo.

6 comentários:

คriαηє รคℓєร disse...

Poema profundo.. sem preocupações com o ritmo, uma rima aqui uma rima acolá.. um olhar crítico e um mundo de sentimentos.. Senti uma "inveja boa" (Quisera ter escrito!).. Vc é d+..

Anônimo disse...

quase choro nesse ultimo verso.
acredito muito nesse mundo novo, lavado com essas aguas correntes e lindas que banham nossa america latina..
apesar de tudo.. meu horizonte distante ainda tem esperança..

;*

Unknown disse...

Marta,

como voce não deixou nenhuma "pista" (nehum link) eu vou agradecer a sua visita e, sobretudo, o seu comentario nesta poesia.

Assim como eu e outros tantos, acredito - e não se trata de mero devaneio - que as paisagens de nossa America Latina podem ser de outra forma; de outra cor; de outro cheiro. Os traços de miseria, violencia, fome, corrupção que marcam os desenhos deste continente não são eternos e, por isso, se a América Latina historicamente se construiu (ou, foi construida) como um continente subdesenvolvido e flagrantemente miseravel ela pode, então, ser, por todos nós, refeita; ou, podemos construir uma nova America Latina. Para tanto, temos que, primeiro, nos recusar a aceitar esta sociedade, este mundo, como algo natural e eterno.

A esperança continua viva e pulsante, como as aguas do rio, e, nestas aguas latinas, ainda correm muitos sonhos e lutas.

abraço,

Anônimo disse...

vim so pra deixar o link.
pq gosto de receber suas visitas tb.
;*

martaentreparenteses.blogspot.com

Nina disse...

Estou impressionada com o seu comentário. A sua facilidade para se expressar é muito rara, características de alguém que terá um ótimo futuro como escritor ou jornalista. Parabéns!
Bem, nem eu poderia dizer o que é o amor, quem sou eu para isso, não tenho capacidade para tanto, mas preocupo-me também com esse amor que está sendo inventado hoje, até
onde isso vai dar...
Ah, obrigada, nem sabia que alguém ainda lia o meu blog... só escrevo para desabafar e refletir.
Um abraço

Tânia Duarte disse...

Sempre com muita inspiração...

Um Beijo!