14 de maio de 2010

Mãos dadas (Carlos Drummond de Andrade)

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

Em: Drummond de Andrade, Carlos Sentimento do Mundo. Rio de Janeiro: Mediafashion, 2008, p. 53.

Um comentário:

(marta silva) disse...

nossa, é a terceira coisa do drummond que esbarro hoje, e ainda é de manhã. acho que preciso parar tudo e pegar um livro dele...


;*

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