16 de junho de 2008

O que nós matamos

Eu me pergunto o que nós matamos
Quando deixamos uma criança morrer (de fome)
Que espécie de loucura é esta que vamos gerando
Reproduzindo e legitimando sem saber.

Uma morte estúpida e covarde
Destinada a tantos e tantas
Que já nascem mortos em parte
Sem comida, mas também, sem esperança.

O menino sorri, mesmo tendo fome e frio.
Pois sabe que a sua vida vale muito pouco
Mas mesmo assim tem que levar em frente, manter-se vivo
Ousando rabiscar os traços incertos de sua história apesar de todo o sufoco.

A menina brinca com a boneca que achou no lixo
Apesar desta estar quebrada, não tem um dos braços
Ainda assim, ela finge que está cuidando do filhinho
Espantando o horror de viver num mundo onde não há abraços e nem carinho.

Mundo em que a solidão é uma regra e a desigualdade evidente.
Aonde as esperanças vão padecendo, anêmicas e débeis
Cedendo lugar à resignação e a impotência recorrente
Produzindo um mar de existências vazias e inférteis.

Pior do que os gemidos e súplicas
De todos aqueles que vivem na miséria e na dor
E vêem suas vidas consumidas de maneira tão estúpida
Sem direito a nada, sem paz, sem amor.
É o silencio dos demais.

Mas apesar de tanta dor e sofrimento
Tantos tiros, torturas e chacinas
Os que sofrem se unem criando movimentos
E aprendem a lutar por suas vidas.

Batucando, sorrindo e chorando juntos
Dançando as danças da revolta e do desamor
Escrevendo as crônicas do absurdo
E pintando quadros com as cores do horror.

Ainda que estas lutas sejam incertas e perdidas
E que as derrotas sejam inevitáveis e tortuosas
Pior é não combater e aceitar a vida como um caminho único e sem saída
Em que não há curvas ou possibilidades de se inventar outros destinos e historias.

Crianças morrem de fome.
Morrem de doenças que poderiam ser evitadas.
Morrem atravessadas por balas
Morrem de manhã, a luz do dia.
Crianças que são exterminadas
Eliminadas como se fossem baratas.

O que nós matamos quando deixamos uma criança morrer?
O silencio é ainda pior que os gritos de dor.
Ainda assim, é a resposta mais comum.
A mais estúpida, a mais estéril, a mais ....

Um comentário:

Tânia Duarte disse...

é a verdade pura e cruel.
cada vez mais entendo porque tanto lutas... acho que nao deves desistir!
porque com um paço hoje e outro amanha ... talvez se deêm os primeiros passos para mudar triste verdade.

beijos*
ME