24 de fevereiro de 2008

O nosso Lixo

Esta poesia foi escrita em outubro de 2000, na época tinha 15 anos e foi, também, os primeiros versos que experimentei. Como dá para perceber ao ler a mesma, nestes oitos anos que se passaram desde a sua criação até os nossos dias, a questão ambiental ainda continua sendo um problema vital que nenhum de nós pode ser dar ao luxo de ser indiferente. Todavia, o que a sociedade faz pela preservação do meio ambiente é ainda tão pouco e insignificante que continuamos a olhar os lixões como se fossem algo natural e normal; continuamos a olhar os dias como se fossemos meros observadores passivos de uma historia que, independente de nosso esforço, segue os rumos que ditou a si própria; continuamos a nos adequar sem questionar, reclamar ou lutar; continuamos a produzir lixo, a fabricar miséria e a poluir o nosso próprio ecossistema; pior, continuamos a achar que tudo isso é tão normal. A poluição desenfreada do meio ambiente é o efeito da lógica de produção que, a séculos, dirige nossa sociedade, ditando aquilo que devemos pensar, sentir, fazer, enfim, nos dizendo, através de todos os seus mecanismos sutis inseridos em nosso cotidiano, aquilo que devemos ser. E em que nos transformamos?

Olhe o lixão,
Como ele está grande e bonito
A natureza em volta está morrendo
E a cada dia chega mais lixo.

Que beleza: os rios sendo poluídos
As florestas vendidas e desmatadas
Os animais caçados, presos e extintos
Tanta riqueza em troca de nada.

Afinal, hoje é o dia do índio
Tempo de comemorarmos:
Todas as tribos assassinadas e destruídas
Séculos e séculos de puro descaso.

Viva! É o progresso em pleno vapor
Enormes paredes de concreto são edificadas
Indústrias e empresas de inestimável valor
Tudo em cima de uma moribunda mata.

Para os animais que sobraram,
Ou vão logo se encontrar com São Francisco
Ou com o responsável do zoológico
Vão ficar em jaulas, encarcerados
Discurso humanitário, e um grande negócio.

Escolas levarão seus alunos para verem os animais
Todos orgulhosos do triunfo
Da raça humana (superior) sobre os irracionais
Estamos no topo da pirâmide evolutiva - não é pouca coisa.

Olhe o lixão
Como ele cresce robusto e bonito
Não polui, não ocupa espaço
Inofensivo, dizem, é só lixo.

Não precisa ficar guardado
No ar livre é bem melhor
Não consome verbas
Não precisa de maiores cuidados.

Olhe o lixão
É bom que você o note
Repare em sua extensão
Como ele está bonito
E extenso
Como ele ainda é engolido
Cuspido
E olhado
Olhe o lixão
Ele é quase um espelho.

3 comentários:

Tânia Duarte disse...

Esta posia é tao triste. Mas é tao real. Quando a estava a ler olhei pela janela e vi o que aqui estava escrito. Arrepiei-me!! Será que um dia poderemos salvar este mundo?? Espero que sim. Pois nao quero imaginar o meu futuro se as coisas nao melhorarem...
Nós sonhamos, queremos realizar todos os sonhos. Mas de que isso adianta se nao tivermos um mundo?

Bjs**

Tânia Duarte disse...

Ahh! E tu ja vias isto é 8 anos atras! Mas sabes que existe muito antes disso. E desde entao nao melhorou! Tenho medo! Fico assustada quando penso, por isso é que agoro tento viver cada dia como se fosse o ultimo e realizar todos os meus sonhos. E eu sei que tu tambem o fazes. Tu lutas todos os dias e eu admiro-te por isso. Nunca te canças de lutar nem de transmitir ás pessoas aquilo que tu ves...

Bjs*

Anônimo disse...

Gostei. está bem realizado seu blog. Apoesia é triste como a minha.
um abraço. Cristina
http://poesiasoriginais.blogspot.com