8 de março de 2010

Sobre mulheres, amor e poesia.

As três poesias que seguem abaixo já foram, há alguns anos atrás, publicadas aqui no Experimentando Versos. No entanto, como "recordar é viver"...

E bailar e bailar

Quando a música toca alta
No radinho velho de pilha
Ela dança desbaratada
E se esquece da vida.

Mas nada que mereça
Ser tão lembrado
A não ser os cantos ecoando em sua cabeça
E os requebros e rebolados.

Acaba a energia
E ela tira som das panelas vazias
E explode de alegria
Cantando, dançando.

Num vai e vem eterno
Ela se deixa levar pelo movimento
Sonha com um amor sincero e um caso sério
Pensa na maternidade e no casamento.

E quando a hora chegar
Ela sabe não vai aquentar
Mas quando a música tocar
Ela vai rodar, girar, bailar e bailar.


Choro contido

Ela chora de saudade do amor perdido
Chora porque o que era um sonho deslumbrante
Sonho tão belo e querido
Perdeu-se e já não é mais um romance.

Romance nunca foi mas quem disse
Que ela queria acreditar que não era
Não ouvia a quem lhe prevenisse
Estava tão apaixonada e cega.

Mas agora o seu mundo é menor
Seus olhos vermelhos, tantas lágrimas
Prefere a reclusão, quer ficar só
E não lembrar ou pensar em nada.

Esfrega as mãos no chão
Corre a vista pela parede enfeitada de retratos
E sabe que aquela confusão
No fundo poderia ter evitado.

Mas não se importa por ter, pelo menos, tentado
Ela sabe que um dia esquecerá aquele caso
E sorri como se nada tivesse acontecido
Enquanto esse dia não chega ela abafava os gemidos
E prefere manter-se num choro contido.


O pierrot e a colombina

A quarta é de cinzas
Mas o batuque do samba não se apaga
E antes de raiar a quinta
Já se ouvem novas batucadas.

Vai o Pierrot e dança, pula, balança
No meio da multidão
Atrás de sua colombina e na esperança
De conquistar-lhe o coração.

O passista faz desenhos no ar com seus movimentos
Voa sem sair do chão e gira com o seu corpo
Desafia as leis do espaço e do tempo
Sorri, mas deixa escapar uma lágrima pelo rosto.

As crianças brincam e seguem o bloco pela rua
O rei mono, agora mais magro, desfila sorridente
Vai sambando ao lado da rainha e de todas as suas
Muitas princesas e pretendentes.

A alegoria passa e vai em direção ao desfile
As baianas rodam para aquecer e comemorar
Mas, sem avisar, o carro quebra e o dia fica mais triste
Até que o samba toca alto e todos se esquecem das lágrimas
[e vão sambar.

Nem tudo é festa,
A menina quer uma fantasia de fada
Mas a mãe não pode lhe dar mais do que lhe resta
E o que tem já não é quase nada

Na rua alguns poucos mascarados
E o pessoal da limpeza varrendo o chão
O cavaquinho e o pandeiro agora silenciados
Não tocam, mas bate forte o coração.

Na quadra a espera pela apuração dos votos
Em casa o saudosismo dos mais velhos a discutirem
Na rua a chuva caindo dispersa e passiva sobre os corpos
Apressados por se esconderem embaixo das marquises.

E em cada canto algum samba entoando
Uma alegria dispersa e perdida
Por entre letras de sambas de outros carnavais
Cantando nossas muitas tristezas e alegrias

A lembrança de tempos que não voltam mais
E a busca de dias diferentes
Onde possamos levar nossos blocos e sambas em paz
E o pierrot e a colombina possam se amar ardentemente.

Na quarta o carnaval acaba
Mas não termina
O samba invade cada madrugada
E não se esvai com as cinzas.

O pierrot, enfim, encontrou a sua colombina
E eles vão de mãos dadas pelo caminho
Ele diz que a ama e a amará por toda sua vida
E ela desconfia desse amor tão repentino
Mas deixa ele pensar que ela acredita...

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