5 de janeiro de 2008

Ir

Ela está ali sentada.
Olha pro céu,
Tira o relógio da bolsa e nada.
Cadê o ônibus que não passa?

Ela se censura
Deveria ter se arrumado mais cedo.
Mas não, a culpa não é sua.
O ônibus é que está atrasado.

Ela se olha.
A vista corre pela rua.
Um barulho: é agora!
Não, não é o ônibus.

Ela xinga.
Vai se atrasar.
Poderia até ser demitida.
Se tivesse um emprego
e não pudesse faltar.

Ela chora.
Ali está e depois?
Chegou o momento de ir embora.
Mas não tem certeza.

Ela enxuga as lágrimas.
O ônibus surge barulhento na esquina.
Ela levanta-se e dá o sinal.
O ônibus pára e ela diz que se enganou.

Um comentário:

Anônimo disse...

A partida do autocarro deixou no rosto de Amélia o sorriso feito na certeza de que ficar é destino possível. Existem outros autocarros, outros destinos, outras escolhas…
No momento exacto em que o autocarro partiu, Amélia soube que ir não tem direcção. Que ir, paradoxalmente, pode conjugar-se em ficar. Dizer “vou” por “fico” contém movimento que se faz pela escolha.
Desenrolou a bolsa do punho, fê-la girar por cima da cabeça, e no arremesso, libertaram-se dos dedos de Amélia todas as penas, todos os medos, todas as lágrimas, todos os dolorosos segredos…
Amélia ficou na paragem de autocarro desenhando o seu jardim de passos libertos de qualquer formatada direcção.
Levantou-se e seguiu pela graciosidade dos passos de mulher florida!

Obrigada por ter passado pelo meu Blog.
Gostei da sua poesia.

Bom dia! ;)

Maria