"Vamos festejar a violência"
(Renato Russo)
“Olho por olho, e o mundo acabará cego”
(Mahatma Gandhi)
(Mahatma Gandhi)
A
vergonha toma conta de meu rosto. Na internet, observo, ainda que olhar doa e
plante tristezas em meu peito, um adolescente – negro, pobre e em situação de
rua –preso a um poste através de um pedaço de bicicleta. Ele apanhou e foi
capturado por um grupo de jovens “justiceiros”. Jovens classe média indignados
com a violência no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro. Vejam: eles diziam lutar contra a
violência! Há faíscas no ar. Um gosto ruim na boca. Que os meus olhos
estivessem mentido, que fosse ficção. Ah, em meu silêncio eu pedi que fosse
mentira. Uma montagem, como tantas outras. Mas não! Era mais verdade do que eu
estava disposto a crer. É realidade, eu suspirei desenganado. Uma realidade
dura de engolir, árida de experimentar, difícil de tentar entender. Fizeram
justiça, alguém disse. Justiça? Escuto com dificuldade. Certas palavras agridem
meu ouvido. Houve aplausos. Vivas. Uma comemoração. Minha cabeça dói. Pegaram
um negro ladrão! Prenderam-no num improvisado pelourinho de cimento. É o seu
castigo! É a sua punição! A âncora-personagem do telejornal comemorou. Em seu
discurso o deleite de um clamor punitivo desavergonhado testando os limites do
tolerável. Houve críticas, indignações e prisões. ‘Quero ver se fosse com você! Se ele te assaltasse!” Me cobri de
vergonha. Eu queria poder dizer que é mentira, mas a verdade grita. Me cobri de vergonha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário